Por estes dias escrevi sobre os sem abrigo que povoam a cidade de Lisboa e a sua miséria económica e social. Nunca me passou pela cabeça que por estes dias uma sem abrigo de nome Sara com 22 anos bate-se tão fundo na miséria moral, ao ponto de deixar o filho recém-nascido num caixote do lixo. Já foi indiciada por homicídio qualificado na forma tentada, ficando a aguardar o desenrolar do processo em prisão preventiva e pagará pelo seu crime. O seu crime é hediondo, mas muito antes de a punir, deveríamos tê-la salvo. Sara que vivia num cenário de pobreza e miséria habitava numa das tendas que estão montadas junto ao Terminal de Santa Apolónia, bem perto do local onde o bebé foi encontrado por um sem abrigo, supostamente seu conhecido das ruas. Não tem antecedentes criminais e agiu sozinha.
Como é possível, que alguém que vivia numa tenda no meio da rua, nunca tenha pedido ajuda a alguém pela sua situação!? No outro lado da moeda ( nós a sociedade no geral ): como foi possível as autoridades que acompanham os sem abrigo - polícia, IPSS, voluntários, etc - não tenham sinalizado que estava grávida!?? O que esta mãe terá sofrido para manter esta maternidade invisível e sofrida!!? Este bebé não nasceu, foi parido e graças à sorte, muito bem parido, pois nasceu saudável e cheio de vontade de viver. A seguir, a mãe coloca-o no lixo. A mãe cometeu esse erro que vai pagar caro, mas o que a levou a cometer esse erro? Se a sociedade no geral a tivesse ajudado, provavelmente não teria cometido tal erro. Erro que estamos todos prontos para julgar, esquecendo que o erro maior foi nosso, quando deixámos que tal acontece-se em pleno século XXI. Antes de a punir deveríamos tê-la ajudado...