Muito se tem falado e escrito sobre Marine Le Pen por estes dias. Primeiro, porque vinha a Web Summit fazer uma intervenção, depois porque lhe retiraram o convite. Consequentemente apareceram muitas opiniões sobre censura e liberdade de expressão. Devemos ver os prós e contras desta suposta censura em que se confunde as esferas estatais com as empresariais.
NÃO É CENSURA – uma empresa privada não aceitar uma opinião de que não gosta ou não reflita os ideais da empresa. A liberdade de expressão de uns não retira a outros a liberdade de ouvir ou ler as opiniões que considera correctas. Nenhum privado tem obrigação de divulgar e dar palco a opiniões que não goste.
Outra coisa que não é censura é os visitantes - ou os contribuintes que pagaram 1,3 milhões de euros à Web Summit – darem a sua opinião (vivemos numa democracia, ou não?) sobre o convite a Le Pen. Se não concordam, não comprem bilhete. É assim que funciona. Não se gosta, não se ouve. Considera-se a opinião de Le Pen políticamente incorrecta? Tem a liberdade para afirmar que a dita opinião é incorrecta, mas não tem a liberdade para a proibir. Isso cabe ao Estado.
É CENSURA - quando existe um Estado que proíbe qualquer manifestação de opinião que esteja dentro do que perante a lei é considerado ético. Logo, se fosse o Estado português a proibir a vinda de Le Pen - e não foi - seria censura. Afirmar que ela ia debitar um discurso de ódio é fazer futurologia. Assim, a retirada do convite a Marine Le Pen não foi ‘calar’ ou ‘censurar’, foi a opinião da empresa responsável pelo evento. É uma opção estratégica da empresa.
Os argumentos contra e a favor de Le Pen:
- Marine Le Pen admite o uso de políticas autoritárias e abafadoras das liberdades como forma de alcançar objectivos ideológicos. Logo é apelidada de fascista, racista ou nazi. Ela diz que não é nada disso. É possível que não seja: defender que a França deve ser dos franceses não é o mesmo que defender que a França deve ser dos brancos católicos. Ser nacionalista, embora triste, não é o mesmo que ser fascista, racista ou nazi.
Alguns dizem que Le Pen não o diz publicamente porque não pode, mas lá no fundo tem ideias fascistas e nazis. Talvez tenha, não sei. Mas então devem usar o mesmo critério em relação ao Partido Comunista, que na aparência se diz democrático, mas na sua matriz ideológica quer instituir uma ditadura do proletariado. Sem esquecer que defendem a Síria e a Coreia do Norte, comparsas ideológicos.
- Em 1990, Mário Soares, então Presidente da República, declarou que Jean Marie Le Pen era indesejável em Portugal, muitos crêem que António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa deviam fazer o mesmo em relação à sua sucessora, pois é racista, islamofóbica e anti-imigrantes, recusando assim os princípios da igualdade e os direitos fundamentais de todos os seres humanos. Logo, defendem a censura, o que é uma contradição em relação aos valores que defendem.
Do outro lado da barricada estão os que defendem que Le Pen tem razão, pois combate os muçulmanos que estão a invadir a Europa sem respeitar as leis vigentes nos paises de acolhimento. Que combate os islâmicos fundamentalistas que vêem para a Europa praticar actos terrorristas, que apedrejam mulheres acusadas de adultério, que cortam as mãos aos acusados de furto e que condenam à morte todos os que têm outra religião.
Perante isto, e apesar de não ser censura a retirada do convite a Le Pen, sou da opinião que devia vir a Portugal esplanar os seus ideais - até para termos a certeza quais são - pois conhecer os argumentos daqueles com que discordamos permite-nos argumentar contra, desmontar argumentos e mostrar as falhas. Se concordarem com ela é ouvirem e baterem palmas.
Não gosto da Le Pen, mas não consigo perceber como é que se defende a democracia cortando a liberdade de expressão. Retirando-lhe o convite, estão a fazer dela uma mártir, uma vítima. Posição que ela irá usar para puxar os descontentes para o lado dela. Sim, ela devia vir a Portugal, nem que fosse para a mandar calar...